Categoria

Arquitectura, Projecto

Material

Tijolo Face à Vista Branco Alcácer Pintado

Ano

2010

Arquitecto

Arq. João Crisóstomo

Projecto

Bloco no Avenal

Fotografia

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Espaço do Arquiteto Com o Arquiteto João Crisóstomo

Nesta edição do Espaço do Arquitecto da Cerâmica Vale da Gândara, fomos falar com o Arq. João Crisóstomo do depA, vencedor da Menção Honrosa no Prémio de Arquitectura em Tijolo de Face à Vista 2010 2011 com o seu projecto Bloco no Avenal.

Breve apresentação de João Crisóstomo | depA [departamento Arquitectura]

João Crisóstomo nasceu em Coimbra em 1985 e é formado pelo Departamento de Arquitectura da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (2009). Entre 2006 e 2007 foi bolseiro Erasmus na TU Delft, Holanda. Foi director da revista NU entre 2007 e 2008, tendo sido membro da equipa editorial desta revista entre 2003 e 2009. Desde então tem escrito regularmente sobre arquitectura em revistas da especialidade. Entre 2008 e 2012 colaborou no atelier Pedra Líquida, tendo aí desenvolvido essencialmente um trabalho projectual crítico na área da requalificação de edifícios urbanos. Deste período destaca-se o 2º lugar (em colaboração) no Concurso Internacional para a Requalificação do Edifício do Museu do Carro Eléctrico, Porto, 2010. Colabora actualmente no atelier MVCC Arquitectos. Ainda em 2009 é co-fundador do colectivo depA [departamento Arquitectura], um grupo de discussão e criação arquitectónica, tanto na sua forma de projecto como nas suas variáveis teóricas e interdisciplinares. Do trabalho desenvolvido pelo depA, destacam-se o 1º lugar no Concurso Internacional para o Museu Santiago Ydáñez, Puente de Génave, Espanha, 2011, e a curadoria da exposição "On the Run" que lançou um olhar crítico sobre o modelo de concurso em arquitectura, exposição integrada na ARQ OUT 2011.

Que significado teve a atribuição da Menção Honrosa no Prémio de Arquitectura em Tijolo Face à Vista?

Em arquitectura, a expectativa de cada início de projecto dá sempre lugar à dúvida: os caminhos do projecto nunca parecem proporcionais à energia despendida. Esta menção honrosa terá o travo reconfortante desse investimento e será um incentivo à forma como o depA entende e abraça a disciplina.

Considera importante a realização do Prémio de Arquitectura em Tijolo Face à Vista no panorama nacional?

A realização deste Prémio reforça a divulgação de um material de excelência, que tem sido estimado pela arquitectura em grande parte da sua história, contribuindo também para potenciar a sua experimentação. Mais ainda, hoje, perante o corrosivo panorama económico com reflexo nossa disciplina, este prémio afirma-se também como um alento necessário à produção de arquitectura.

O cliente sentiu "a necessidade fazer uma intervenção no exterior" da sua casa. Como surgiu então o Bloco no Avenal? Qual o conceito?

Inicialmente não havia um projecto ou programa claros. O Bloco do Avenal surgiu de amplo diálogo com o cliente, que participou decisivamente na fase inicial do processo e ajudou a desvendar a equação que deu início aos primeiros desenhos. A chave para o projecto era, afinal, potenciar a relação entre casa e logradouro. Ao logradouro que acolheu o Bloco, correspondia uma pequena casa de fim-de-semana que, a meia cota, se encontrava afogada contra o terreno. Casa e logradouro eram duas peças do mesmo puzzle que não encaixavam, não dialogavam. Daí se terem desenhado as novas escadas que abrem a casa ao terreno e iniciam um percurso até à cota superior, cruzando-se com o novo bloco. O bloco é entendido como um abrigo, um espaço de estar, que amarra a vida à cota mais importante de todo o espaço exterior.

Porque é que optou pelo Tijolo de Face à Vista?

Na concepção deste projecto a ideia de planos lisos não fazia sentido. Era claramente necessário algo mais denso, mais tectónico, de maior conforto físico e visual. Era necessário um material que potenciasse a "sensação de lugar". A opção do tijolo de face à vista tornou-se assim primordial.

Qual foi o porquê de pintar o tijolo de branco?

A opção de pintar o tijolo foi absolutamente essencial: conferiu a leveza e a luz que procurávamos, indispensáveis àquele lugar. O lugar constrói-se também do confronto entre a pureza do branco e a rudeza do betão cru. Por seu lado, a opção de utilizar a junta à face diminui a importância de cada peça individualmente, permitindo explorar todo o conjunto de tijolos mais como textura, fundamental para a adequação do material à escala do projecto e ajudando na construção do conforto procurado.

Como vê a Arquitectura Portuguesa no actual momento?

A arquitectura portuguesa tem desde há já várias décadas provado a sua grande maturidade. Contudo, o actual contexto parece estar a mudar os paradigmas com a arquitectura está habituada a trabalhar. Acreditamos que a arquitectura portuguesa usará essa maturidade para se adaptar de forma positiva. Saberá alterar o seu modo de operar, explorando as potencialidades do momento, que também as há. À primeira vista, para os jovens arquitectos, a arquitectura parece hoje ser pouco mais que um hobby demasiado caro. Olhamos ao redor e parece que hoje em dia falar de futuro é falar de um plano negro, um fado incontornável. Mas no depA acreditamos que não será necessariamente assim. Entendemos o momento como um desafio constante e trabalhamos com a convicção de que o futuro também depende de nós.