Categoria

Arquitectura, Projecto

Material

Plaqueta cerâmica Branco Alcácer

Paver cerâmico Pau Rosa

Ano

2021

Arquitecto

Arq. João Escaleira Amaral

Arq. Manuela Tamborino

Projecto

Casa dos Brejos da Carregueira

Fotografia

Garcês (www.garces.pt)

Espaço do arquiteto com Estúdio AMATAM

Somos um pequeno estúdio de profissionais dedicados, entusiastas e criativos. Há quem nos chame Arquitectos, mas procuramos ser mais que isso. Actuamos nas mais diversas áreas, desde o Design, a Arquitectura e o Urbanismo, tanto para estratégias formais como informais, contando já com projectos desenvolvidos para diversos países. Os nossos projectos abrangem todas as escalas, sempre apoiados em equipas multidisciplinares que nos garantem a concretização plena dos objectivos a que nos propomos. E é isso que procuramos em tudo o que fazemos, superar continuamente os resultados esperados. No Estúdio AMATAM somos apaixonados por desafios, é verdade, mas o que realmente importa são as pessoas que os propõem e os concretizam.

"Um exterior geométrico que esconde uma casa de férias luminosa e portuguesa."

Desenvolver um projecto para uma casa cujo fim é exclusivo para estadia em período de férias, desafiou-nos a procurar desenvolver um conceito espacial e programático que refletisse essa especificidade. Procurámos entender aquilo que poderiam ser as qualidades inerentes a uma casa de férias, com uma utilização temporária por diversas famílias… e focámo-nos em algumas características que nos pareceram essenciais - uma organização espacial interior que permitisse uma forte convivência entre os seus utilizadores, uma relação muito próxima com o exterior e uma atmosfera que revivesse a morfologia das casas de campo, tradicionais portuguesas. Assim, a nossa proposta resultou num diálogo inusitado entre o moderno e o tradicional.

No exterior procurámos desenvolver uma linguagem que fosse marcadamente contemporânea, com formas puras e simples, explorando a relação entre dois volumes rectangulares com volumetrias distintas. Esses volumes ocultam, contudo, um interior que explora uma espacialidade que tira proveito dos telhados de duas águas, tão característicos das casas de campo tradicionais. Apesar da modernidade aparente da volumetria, dotámos o exterior de materialidades que também exploram características vernaculares, nomeadamente o uso de madeira nas portadas, assim como o uso do tijolo cerâmico na cor branca, que transmite uma ruralidade tectónica. Há, assim, uma relação de harmonia entre premissas que são heranças da arquitectura popular tradicional e princípios que reflectem o paradigma contemporâneo do habitar.

A fachada frontal é a mais reservada, uma vez que a vivência da casa está orientada para o interior do logradouro, onde se situam os principais espaços exteriores de convívio. A própria entrada principal é protegida por uma parede que potencia a privacidade. Do mesmo modo, na área de estacionamento, localizada no lado direito da casa, foi colocado outro muro para dotar a área da piscina a tardoz, no logradouro, de maior privacidade. A tardoz estão localizados os principais espaços exteriores. Uma área de refeições ao ar livre complementada por uma churrasqueira estende a cozinha para o exterior, espaços esses sombreados por uma planta Jasmin que oferece aroma e sombra nos dias quentes de Verão. Janelas maiores na área da cozinha e da sala, reforçam a relação com a área exterior e a piscina.

No interior, continuou-se a exploração do diálogo entre o vernacular e o tradicional. Através do repositório do nosso imaginário, exploraram-se características das casas rurais que nos acompanham, particularmente casas com pé direitos variáveis e com a presença das pendentes dos telhados no interior. Assim, nas duas zonas sociais da casa – a sala e a cozinha – procurou-se explorar a plasticidade volumétrica do telhado de duas águas, com diferentes alturas, criando hierarquias espaciais e uma dinâmica estimulante para quem vivencia a casa. Quem está de fora, não consegue idealizar a riqueza espacial do interior, nem quem está no interior entende como o exterior apresenta uma linguagem tão elegante e minimalista. Esta ambivalência traduz-se numa casa moderna para uma vivência de campo!

Para finalizar, como vê a utilização do Tijolo Face à Vista, no panorama futuro da arquitetura em Portugal?

Quando pensamos no futuro da Arquitectura, seja ela Portuguesa como Mundial, são incontornáveis os temas da Sustentabilidade e da Identidade. Estes dois temas giram em torno de si mesmo a discussão sobre o trajecto futuro, mas também presente, da Arquitectura: a emergência da redução da pegada ambiental dos métodos e processos construtivos, e a reflexão sobre a importância da identidade dos locais e das pessoas, numa sociedade cada vez mais globalizada. É premente entender que não podemos continuar a construir usando recursos de um modo insensato e, perante este paradigma, a utilização de um material como o tijolo de face à vista e o paver, ambos feitos de um material natural como a argila, permite obter um produto final de baixa impacto ambiental, altamente durável, de baixa manutenção e consequentemente com um enorme ciclo de vida. Aliado a esta vertente técnica, estes dois produtos, permitem tonalidades e dimensões diversificadas, que quando combinadas potenciam soluções que exploram padrões e texturas altamente enriquecedoras para o léxico gramatical arquitectónico. Quanto à Identidade, no sentido do respeito pelo local, pelas técnicas de construção ancestrais, pela relação das pessoas com os materiais e o seu imaginário, o uso de materiais como estes, dão significado e conteúdo enquanto resposta a esta problemática, sendo um material cuja imagética nos transporta logo para as edificações, com o qual as pessoas estabelecem uma relação afectiva e sensorial à sua tectónica e plasticidade. Assim sendo, parece-nos que no futuro ambos os materiais serão incontornáveis na prática arquitectónica em Portugal.