Categoria
Arquitectura, Projecto
Material
Tijolo Face à Vista Castanho Mondego
Ano
***
Arquitecto
M2.Senos
Projecto
Casa HVM
Fotografia
Ivo Tavares Studio
Espaço do arquiteto com o atelier M2.Senos Arquitectura
Nesta edição do Espaço do arquiteto, falámos com atelier M2.Senos Arquitectura, acerca da Casa HVM, em Aveiro onde foi utilizado Tijolo Face à Vista Castanho Mondego.
Apresentação do atelier M2.Senos Arquitectura
Formámos o atelier de arquitectura M2.senos em 2007, com a missão de desenvolver estudos e projectos de arquitectura, urbanismo, reabilitação, design e investigação. Temos como princípio “conhecer o passado para projectar o futuro”. Baseamo-nos num equilíbrio entre a imaginação/inovação e a realidade, tentando sempre encontrar as soluções mais criativas e assertivas. Através da colaboração com uma vasta equipa disciplinar, estamos presentes em todas as fases de projecto, desde a concepção à execução, assegurando o melhor acompanhamento de todas as especialidades necessárias à otimização do projeto global. Damos especial atenção ao acompanhamento de obra num trabalho muito próximo entre o cliente e o construtor. http://m2senos.wix.com/m2senos
Qual é o conceito da Casa HVM?
A moradia situa-se numa zona residencial, próxima da Universidade de Aveiro. No sentido de a aproximar à linguagem formal da universidade, optou-se por uma volumetria discreta e compacta, revestida em tijolo face à vista, num equilíbrio visual que reforça a sua integração na envolvente. Com um programa muito familiar, surgem espaços articulados com o exterior, garantindo os melhores quadrantes aos espaços vivenciais e conferindo-lhes uma maior privacidade através do jogo volumétricos de balanços. A moradia desenvolve-se em dois pisos, sendo o piso térreo dedicado aos espaços mais diurnos em estrita relação com o exterior, comunicando com o verde do jardim e um pátio coberto de lazer, voltado para o tardoz do lote, que enriquece a vivência exterior ao mesmo tempo que qualifica os espaços interiores. O segundo piso alberga espaços mais privados: os quartos e uma sala de inverno, voltada a nascente, que partilham uma varanda intimista, resultante da dinâmica da volumetria.
A integração da habitação com o meio envolvente, dada a proximidade Universidade de Aveiro, foi determinante na escolha do material de revestimento?
O tijolo face à vista é um material que nos agrada em geral, mas claro que o contexto da Universidade de Aveiro tornou a sua utilização uma quase inevitabilidade. Não só por questões de integração, mas porque os clientes são docentes da Universidade e portanto este era um material que lhes era familiar e que respondia às suas expectativas.
Qual o objetivo primordial na utilização dos volumes na conceção desta habitação?
A composição formal da moradia baseia-se na sua competência plástica. O jogo volumétrico enriquece-se o objecto arquitectónico, criando balanços, dinâmicas espaciais, de avanços e recuos enfatizados pela presença incisiva das sombras. Assim a dinâmica volumétrica da moradia é o elemento gerador de toda a organização espacial da habitação, provocando a relação entre as diferentes divisões interiores, mas em especial entre o interior e o exterior, contribuindo para espaços mais intimistas e mais protegidos.
Um melhor desempenho térmico e acústico e redução de consumo energético, foram causas preponderantes para a escolha do tijolo face à vista?
De facto quando nos referíamos a inevitabilidade da sua utilização, referíamos as suas qualidades estéticas, mas também a performance do seu comportamento. Este era um é um material que os clientes conheciam, que lhes era próximo e com o qual estavam satisfeitos. A robustez da moradia, assim como o conforto térmico, eram características fundamentais que se procuravam. Era muito importante ter um material que transmitisse confiança construtiva, com capacidade de envelhecimento, evoluindo nas suas características, sem se degradar.
Porquê a opção pela cor Castanho Mondego?
Procurou-se uma cor intermédia, nem muito escura, nem muito clara, que transmitisse conforto e equilíbrio. Por outro lado, esta cor, permitia, como referido anteriormente, o envelhecimento qualitativo. Não apenas do material específico, mas também no reforço da adaptação dos restantes materiais utilizados na moradia.
Quais são as suas maiores influências na área da Arquitectura?
São as referencias mais ou menos convencionais de toda a história da Arquitectura, e claro que muito particularmente a história da arquitectura portuguesa. A Escola do Porto, claro. Mas também a de Lisboa. E a arquitectura popular. E a arquitectura que se espalha pelo país, frequentemente anónima, de carácter modernista dos anos 50/60. Achamos este um período excecional, que evidencia o empenho de quem desenhou e de quem executou. É uma arquitectura cheia de detalhes, numa altura em que a mão de obra o permitia, preocupada com o bem estar e qualidade estética dos materiais. Mas fugindo um pouco à história temos actualmente em Portugal imensos colegas, uns mais velhos, mas também mais novos, que fazem um trabalho com imensa qualidade, e que todos os dias são também uma inspiração. A nível internacional aprendemos muito com a arquitectura holandesa e japonesa, como os casos dos MVRDV ou SANAA. Pensamos que tal como a arquitectura portuguesa, estas também são arquitecturas que criaram uma linguagem própria baseadas nas suas tradições.
Para finalizar, como prevê os próximos anos para a Arquitectura em Portugal?
Os últimos anos da crise têm acentuado as desigualdades sociais e inibido claramente a construção. Mesmo o aparentemente crescimento mercado de recuperação, não significa forçosamente mais trabalho de arquitectura. Por outro lado, todos os anos entram jovens arquitetos recém-formados no Mercado. Este parece não ser um cenário animador. E de facto, não o é. Mas também temos 2 prémios Pritzker. A Arquitectura Portuguesa tem uma identidade própria, prestigiada e reconhecida internacionalmente. Como no futebol, somos dos melhores do mundo. E isto tem que valer alguma coisa. Os constragimentos económicos e a pressão do sector imobiliário traz certamente precipitações, facilitismos. Acreditamos que existirá tendência para se negligenciar a contratação de arquitetos. Estamos de novo a discutir a revogação do descreto 73/73. Mas a expectativa é que as oportunidades que surjam, sejam oportunidades do “bem”. De gente que sabe o que quer fazer e que o quer fazer bem. Num ponto de vista óptimista, ainda que o trabalho se reduza significativamente, espera-se que a sua qualidade aumente. O desafio consiste em encontrar um equilíbrio que viabilize a capacidade dos atelier de arquitectura de se manterem no mercado.