Categoria
Arquitectura, Projecto
Material
Tijolo Face à Vista Castanho Mondego
Ano
2016
Arquitecto
Scalline
Projecto
Mediateca de Cazenga - Angola
Fotografia
***
Espaço do arquiteto com Scalline
Nesta nova edição do Espaço do arquiteto, falámos com o arquiteto Bruno Ramos Ferraz da Scalline, acerca da Mediateca de Cazenga em Angola, onde foi utilizado Tijolo Face à Vista Klinker Castanho Mondego da Cerâmica Vale da Gândara.
Apresentação da Scalline
O Grupo Scalline é formado por um conjunto de empresas organizadas por diferentes áreas de negócio, facto que nos permite fornecer aos nossos clientes um conjunto de serviços diversificados como sendo o desenho urbano, arquitectura, design de interiores, consultoria de investimento imobiliário mas também a fiscalização e gestão de projectos. Com as nossas equipas localizadas em Portugal, Angola, Suíça e China, garantimos aos nossos clientes a presença nos momentos decisivos de projecto e acompanhamento de obra de forma a poder efectuar os necessários ajustes ou alterações próprios de cada processo assegurando assim que o resultado final fique de acordo com o esperado. www.scalline.com
A mediateca sendo um espaço integrado na comunidade, exigiu uma especial atenção no projeto de arquitetura. Quais as linhas orientadoras que permitiram a integração do edifício com a realidade envolvente?
A Mediateca do Cazenga faz parte da ReMA, Rede de Mediatecas de Angola onde a integração destes equipamentos na comunidade é amplamente estudada quer seja ao nível da sua articulação com outros equipamentos públicos dos municípios como a sua implantação ao nível urbano. Este equipamento encontra-se localizado no Bairro do Cazenga, um dos Municípios de Luanda e serve uma população de quase 900’000 habitantes. Encontra-se localizado junto à via principal do bairro o que permite um fácil acesso às instalações. Está igualmente muito próximo da Escola do Cazenga, factor preponderante para a integração deste equipamento na comunidade mais jovem. A parcela de 14’890 m2 francamente ampla, permitiu abordar o programa previsto de uma forma mais sustentável criando um edifício com cerca de 2600 m2 em apenas um piso, tornando possível a distribuição das áreas funcionais em torno de pátios que transmitem luz natural ao interior. Estes pátios que oscilam entre o interior e o exterior tangencial, permitem criar zonas mais privadas que se destacam dos jardins mas também um pátio ao centro destinado às crianças. Estes mesmos pátios em conjunto com os restantes espaços verdes são caracterizados pela presença de espécies repelentes como a citronela agindo como uma forma de prevenir a malária no bairro.
Nesta obra há uma complementaridade entre a luz e o tijolo face à vista, como imaginou este diálogo?
O tijolo de face à vista surgiu de forma natural não só pelas suas características técnicas mas sobretudo pelo aspecto tectónico e estético. O diálogo entre uma matéria luxuosa como o vidro e o carácter mais tosco do tijolo de face à vista foi algo que pautou o desenho do edifício. Em algumas zonas como nos pátios conseguimos trabalhar o tijolo como se de um tecido se tratasse, dando profundidade aos alçados e ao mesmo tempo criar um dinamismo entre o interior, os pátios e os jardins exteriores.
A utilização do telhado verde, paredes de grande inercia térmica e panos permeáveis à luz, denotam grande preocupação com o consumo energético. De que forma estes elementos são importantes para o conforto dos utentes e para a sustentabilidade do edifício?
Este edifício especificamente foi estudado de forma a poder garantir uma redução significativa dos custos de operação. A preocupação com a profundidade máxima dos espaços e a criação dos pátios, contribuem para uma boa iluminação natural e assim a optimização dos gastos energéticos. O envelope foi sem dúvida um factor que não foi descorado onde a inércia térmica tem um papel de grande importância pois queríamos a todo o custo reduzir uma parte significativa dos gastos relacionados com a climatização. Na cobertura, de modo a que o coberto vegetal fosse sustentável, propusemos um substracto de sedum, espécie mais resistente e com menos exigências relativamente à rega.
Sendo a mediateca um espaço público, qual a relação entre os materiais de construção, a durabilidade e a baixa necessidade de manutenção?
Existiu e existe, uma vontade de fazer prevalecer a construção o mais possível. Não apenas por ser um espaço público, mas também pela sua localização geográfica onde o sol, as fortes chuvas e sobretudo a poluição são factores a ter em conta. Os paramentos de tijolo de face à vista em conjunto com o coroamento em zinco são materiais de elevada durabilidade, não muito habituais no mercado local mas que irão trazer uma comprovada longevidade ao edifício.
Tem em conta os problemas ambientais e de sustentabilidade na concepção dos seus projectos?
De uma forma geral quero acreditar que sim.
Qual a razão para a escolha da cor Castanho Mondego?
O Castanho Mondego apareceu também de forma natural. Um tom mais escuro que o barro que permitia trabalhar o edifício cromaticamente e demarca-lo da cor do solo, essa terra vermelha que marca fortemente o território Angolano.
Quais foram os maiores desafios na concepção do Projecto?
O maior desafio foi certamente a fase de preparação e acompanhamento de obra em conjunto com uma equipa asiática que se traduziu numa experiência muito enriquecedora para todos, quer ao nível técnico como cultural. Foi feito um esforço enorme entre todos os intervenientes incluído o empreiteiro que teve de se adaptar a uma construção racional, que apesar de ser de cariz tradicional, não é muito comum.