Categoria
Arquitetura e Projecto
Material
Tijolo Face à Vista Cinza Minho
Ano
2019
Arquitecto
CVDB Arquitectos
Projecto
Residência Universitária do Pólo da Ajuda
Fotografia
Fernando Guerra
Espaço do arquiteto com o atelier CVDB Arquitectos
O atelier CVDB Arquitectos foi criado por Cristina Veríssimo e Diogo Burnay em 2000, cujos projectos são desenvolvidos em parceria com Rodolfo Reis, desde 2012.
Diogo Burnay é Director da School of Architecture, Dalhousie University, Canadá, desde 2012, partilhando com Cristina Veríssimo, a curadoria da Trienal de Arquitectura de Lisboa, em 2022.
O atelier desenvolve uma prática profissional associada a uma pesquisa arquitectónica, entendendo o projecto de uma forma participada e aberta a todos os intervenientes no seu processo.
Os projectos são desenvolvidos como parte de um amplo contexto físico, cultural e social, incorporando a experiência e percepção individual e colectiva do espaço arquitectónico.
O atelier tem tido reconhecimento, a nível nacional e internacional.
O projecto da Residência Universitária do Pólo da Ajuda foi desenvolvido em co-autoria com Rodolfo Reis e Joana Barrelas.
Quais os maiores desafios na concepção do Projecto?
A envolvente urbana apresenta um grande desafio ao nível da coesão e qualificação do espaço público: a criação de um lugar para os estudantes, únicos residentes de todo o Pólo Universitário. O enquadramento urbanístico envolvente, é marcado por áreas de construção dispersas, compostas na sua maioria por conjuntos de construções precárias, com espaços públicos descaracterizados.
Assim, o novo edifício da Residência, surge como uma oportunidade de re‐equilíbrio da dinâmica social do Pólo Universitário, contribuindo para a sua qualidade urbana, gerando uma nova dinâmica de vida e enquadrando‐se do ponto de vista da sua volumetria e materialidade.
A necessidade de faseamento da obra, em duas fases de construção, constituiu igualmente um desafio, conduzindo ao desenvolvimento de uma estratégia temporária, para o edifício e respetivos espaças exteriores, sem prejuízo dos aspectos funcionais, infra‐estruturais, de segurança e acessibilidade.
A concretização final do projecto, define um edifício compacto com pátio “comunitário” ao centro.
Toda a proposta é desenvolvida tendo como premissa um módulo estrutural, quer na definição dos sistemas de suporte funcional (infra‐estruturas) optimizados em termos de localização e relação entre si, quer na caracterização geométrica e tectónica do edifício, proporcionalmente compatível com a precisão do tijolo de face à vista. Este rigor geométrico torna‐se a âncora do projecto, na definição da imagem urbana do edifício, assim como dos espaços interiores comuns.
O tijolo de face à vista tornou‐se um material fundamental do ponto de vista da concepção, envolvendo um trabalho rigoroso de coordenação, em fase de projecto e em fase de execução de obra. A compatibilização das premissas de arquitectura e das particularidades do edifício, com o sistema de fachada ventilada, exigiu uma equipa multidisciplinar, agregando as especialidades de arquitectura, estrutura, estabilidade e fixação do sistema de fachada, cujo projecto foi desenvolvido por departamento técnico especializado, considerando igualmente a produção padronizada do bloco cerâmico.
Paralelamente à compatibilização em fase de projecto, foi desenvolvida a compatibilização em fase de obra, tendo‐se desenvolvido em detalhe, todas as extensões de fachada e respetivos princípios de desenho: alinhamentos com elementos construtivos, estereotomias, continuidades e excepcionalidades.
Em ambas as fases, projecto e obra, foi fundamental o trabalho conjunto com a indústria. O conhecimento dos seus meios de produção tornou‐se essencial para o desenvolvimento de soluções integradas, tendo em vista as premissas de projecto e a sua adequação construtiva. Trata‐se de um equilibro entre possibilidade compositiva e rigor construtivo.
Como classifica a utilização do tijolo de face à vista na arquitectura nacional?
Devido à abundância de argilas e areias no território nacional, Portugal é dos países da Europa com maior legado patrimonial no âmbito da arquitectura em “terra crua”: adobe e taipa, constituindo a génese dos processos construtivos actuais, em tijolo cerâmico de face á vista.
Ao longo dos séculos, os meios de produção e soluções construtivas mantiveram‐se praticamente inalterados, assumindo o uso da alvenaria com função estrutural ‐ paredes de elevada espessura, reflectindo técnicas e influências regionais. Neste âmbito, destaca‐se a região de Aveiro, e o relevante legado construtivo do século XIX e princípios do século XX, sobretudo no círculo industrial.
A partir de meados do século XX, o tijolo de face à vista passa a ter uma utilização generalizada, sobretudo em edifícios de habitação coletiva de habitação social, possivelmente por influência da vanguarda moderna internacional.
Nos anos noventa, a arquitectura em tijolo de face à vista ganha um novo impulso, com a construção do Pólo da Universidade de Aveiro.
Com o desenvolvimento do estado da arte, os sistemas de construção actuais, incorporam um conjunto de avanços tecnológicos sismo‐resistentes, dando igualmente resposta às crescentes necessidades de desempenho, do ponto de vista térmico e acústico.
Aliado em desenvolvimento no âmbito tecnológico e da investigação, o nosso país possui um conjunto de profissionais qualificados do ponto de vista da execução, permitindo uma garantia de qualidade na totalidade do processo: extração de matéria‐prima, produção industrial, desenvolvimento de projecto e execução de obra
Porquê a escolha do tijolo de face à vista?
Do ponto de vista das características de desempenho, a escolha do tijolo de face à vista decorre de uma estratégia de projecto, de adopção de produtos de elevada resistência e qualidade de acabamento, associados a baixos custos de manutenção; garantindo igualmente, uma elevada inércia térmica, elevado desempenho acústico, e elevada resistência ao fogo.
Do ponto de vista económico e ambiental, a obtenção de matéria‐prima e o processo de fabrico exclusivamente nacional, foram igualmente factores decisivos. Além dos factores mencionados, importa referir a excelente qualidade das argilas nacionais, resultando num produto com elevada resistência e reduzida higroscopicidade.
Do ponto de vista da expressão arquitectónica, o tijolo de face à vista apresenta um enorme potencial do ponto de vista visual e táctil, através da sua forma, cor e superfície: tendo‐se explorado uma diversidade de métricas, proporções, ritmos, alternâncias entre estereotomia horizontal e vertical, variações entre altos e baixos relevos, opacidades e transparências.
A utilização do bloco cerâmico, quando comparado com a escala global do projecto, remete para a importância do domínio do detalhe e da definição de regras de proporcionalidade, adaptáveis à metodologia construtiva: o projecto percorre várias escalas e a percepção do edifício intensifica‐se, à medida quer nos aproximamos dele.
Porquê a escolha da cor Cinza Minho?
A opção pelo “Cinza Minho”, cor dominante do projecto, relaciona‐se com vários factores, relacionados com o equilíbrio cromático do edifício, na relação com a sua envolvente: face à sua volumetria, à luz dominante de Lisboa, e ao contexto urbano e natural circundante.
O “Cinza Minho” apresenta um valor claro/escuro na ordem dos 30%, sendo ligeiramente pigmentado (saturado) na ordem dos 10%, com uma matiz cromática composta por amarelo e vermelho (NCS 3010‐Y50R: 30% de preto no branco, com 10% de saturação – intensidade de cor, composta por 50% de amarelo e 50% de vermelho). Na prática, o edifício tem um tom ligeiramente quente, agradável do ponto de vista da percepção humana, com um valor claro/escuro semelhante ao das cores da natureza. Este tom natural da fachada, contribui para um processo de homogeneização com o contexto, reduzindo o impacto da sua volumetria.