Categoria

Arquitectura, Projecto

Material

Tijolo Face à Vista Vermelho Vulcânico

Ano

2010

Arquitecto

Arq. João Vieira

Projecto

Centro de Alto Rendimento do Jamor

Fotografia

Fernando Guerra

Espaço do Arquiteto Com o Arquiteto João Vieira

Em nova edição do Espaço do Arquitecto, entrevistámos o Arquitecto João Vieira, do Espaço Cidade Arquitectos, acerca do Centro de Alto Rendimento do Jamor. Este projecto que concorreu ao Prémio de Arquitectura em Tijolo Face à Vista 2010 2011, tem recebido bastante destaque, sendo por exemplo nomeado para o Prémio Internacional do ArchDaily.

Breve apresentação do Arq. João Vieira

João Silva Vieira, nasceu em Lisboa (1973), fundou o Atelier Espaço Cidade Arquitetos Associados, em Sintra em 1998. Conclui a Licenciatura em Arquitetura em 1997 na Universidade Lusíada de Lisboa, tirando especializações em Energias renováveis e solares passivas no ISEL, em Segurança Contra-incêndios 3ª/4ª Categoria no LNEC, e Perito Qualificado pela ADENE. Ao longo da década passada, venceu prémios e concursos dos quais se destacam Recuperação do Museu da Falcoaria Real, Museu da Baleia, CAR de atletismo do Jamor, Centros de Saúde de Almodôvar, Vila Viçosa e Portel, e ainda no planeamento com diversos Planos de Pormenor e Planos de Urbanização. Em 2011 foi nomeado para Europa Nostra Awards na categoria de reabilitação com a Falcoaria Real, em 2012 ficou nomeado para o Prémio TVG com o CAR de atletismo de Jamor, e ainda em 2012 foi nomeado para o prémio Archdaily building of the year nas categorias de edifício desportivo e edifício Museu, respectivamente com o CAR do Jamor e Museu da Baleia. A trabalhar presentemente no Brasil, o gabinete aposta na continuidade do trabalho reconhecido em Portugal, nas áreas residenciais, serviços e equipamentos, e mantêm a sua equipa orientada para a qualidade e rigor dos projectos.

Qual foi o maior desafio do projecto do Centro de Alto Rendimento do Jamor?

O CAR do Jamor, constitui um conjunto de desafios que começaram desde logo com o programa funcional do edifício, e que se prolongaram ao longo da sua materialização com a geologia do local, nas soluções estruturais e formais que constituíram o maior desafio e que acabam por destacar o edifício na sua plasticidade e composição. A escala e a diversidade de utilizações previstas para o edifício, com áreas de salto com exigências de grande pé direito, e áreas de lançamento com particularidades técnicas que vão ao pormenor e detalhe do atleta utilizador, resultaram numa gestão do programa, que foi muito para além de um simples cronograma de áreas, e que proporcionaram á nossa equipa uma experiência singular na concepção de edifícios desportivos, e que ficará certamente registada no nosso percurso profissional. Mas de facto o maior desafio foi o rigor estrutural, e a sua articulação estreita com a arquitectura que permitiu um resultado único na linguagem formal que caracteriza o edifício.

Qual é o conceito do projecto?

O edifício está implantado no complexo de atletismo do Jamor, e articula os espaços pré existentes constituídos pelo edifício dos balneários e a pista descoberta. O posicionamento do edifício, resulta da necessidade em manter as condições da pista exterior, o que resultou numa implantação sob a encosta poente que apresenta um desnível com 15 metros. Para consolidar esta transição, pretendeu-se reforçar a maior necessidade volumétrica na área a poente, fazendo gradualmente essa transição até nascente junto á pista. O volume a nascente, que comporta a área mais extensa do programa, a pista de velocidade, simula a transição da planimetria dessa pista para os planos superiores, através da forma semicircular que remata o edifício no seu topo. Por outro lado, a necessidade de transparência e contato com a pista exterior, resultou numa sequência ritmada de pórticos que transmite movimento, e contrasta com a opacidade imposta pela morfologia do terreno a poente. Esta desigualdade dos lados e a relação espacial, ditaram o conceito e a resposta.

Por que razão optou pelo Tijolo Face à Vista?

Esta opção resulta precisamente da morfologia do terreno onde a obra está implanta. O terreno com uma textura maioritariamente argilosa, induziu esta relação como se tratasse de uma fusão entre o edifício e o território. Para além de reforçar a ideia de integração, permitiu um conforto cromático que é contrastante com a transparência do vidro e com a homogeneidade do betão estrutural. O material consolidou a intenção formal do projecto. A cor estando presente, irá certamente exercer uma influência decisiva no olhar dos utilizadores, afectando-os física e mentalmente, na sua actividade ao nível dos sentidos e reflexos.

O projecto tem recebido bastante destaque, como comprova a nomeação para o Prémio internacional do ArchDaily. Como foi recebido este reconhecimento, pelo Espaco Cidade Arquitectos?

De facto os últimos tempos, têm representado momentos constantes de reconhecimento do nosso trabalho ao nível externo e interno, que no contexto actual da arquitectura portuguesa, reforçam a nossa vontade e necessidade de aposta no mercado externo. Estes reconhecimentos, são o sinal de que o empenho e a dedicação ao longo dos 15 anos de trabalho, consolidaram a prática da profissão e permitem com a mesma serenidade, continuar a construir o nosso caminho de intervenção. Temos mantido a nossa identidade na arquitectura e isso transmite-nos a confiança no futuro, que se anuncia não ser fácil. O reconhecimento do nosso trabalho, funciona como estimulo para fazer ainda melhor, com responsabilidade e admiração por aqueles que serão os utilizadores das nossas obras.

Acha importante a aproximação entre o Arquitecto e o fabricante de produtos cerâmicos? Porquê?

O processo entre a teoria do projecto e a materialização da obra, é cada vez mais um processo com diversos interlocutores, entre os quais está presente a disciplina de materiais, como sendo aquela que tem um papel importante no resultado obtido, na longevidade e manutenção do edifício, e sobretudo no impacto económico que resultará da obra. A existência de uma articulação estreita entre o arquiteto e os fabricantes de produtos, podem influenciar o sentido estético e plástico da obra, e permitem ao mesmo tempo uma abordagem enriquecida da cor, da textura, e da matéria no contexto da arquitetura. A nossa experiencia tem demonstrado e reflectido nas nossas obras, uma abordagem permanente da cor e textura, que lhes conferem identidade.